Imagine as seguintes situações: equipes multiprofissionais de saúde prestando atendimento a populações ribeirinhas em locais de precárias condições no cuidado geral com a saúde e cujo acesso deve-se dar obrigatoriamente por barcos ou lanchas, ou ainda, grupos de profissionais de saúde bucal atuando em comunidades indígenas no coração da selva amazônica e ensinando à população local noções básicas de prevenção a doenças relacionadas à saúde bucal. Situações como estas correspondem à realidade ou são mera ficção?
Por incrível que possa parecer, casos assim pertencem, hoje em dia, mais ao campo da realidade do que aos desejos utópicos de um Brasil menos desigual e injusto. O fato é que, ao longo da última década, assistiu-se a um expressivo movimento migratório de profissionais de Odontologia em direção a áreas mais. A interiorização do cirurgião-dentista interiorana do território brasileiro, fazendo com que situações como as ilustradas anteriormente tornem-se cada vez mais recorrentes, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.
Porém, o que exatamente tem impulsionado cirurgiões-dentistas e demais profissionais de Odontologia para o interior do país?
Na opinião de Luis Eduardo Lopes Albuquerque, cirurgião-dentista roraimense e representante do Conselho Federal de Odontologia na comissão do Ministério da Saúde responsável por elaborar a proposta de plano de carreira para profissionais de saúde em áreas de difícil acesso, a atuação do governo federal nos últimos anos tem sido decisiva no contexto de interiorização do cirurgião-dentista.
“Isto se deve principalmente aos programas de saúde implementados pelo Ministério da Saúde com o Programa Brasil Sorridente. Os programas federais são importantes, pois são eles que incentivam os demais gestores e profissionais da saúde a incluir ou ampliar os serviços existentes nos municípios”, afirma.
Entretanto, embora seja uma verdade cada vez mais concreta para muitos municípios do interior do país que outrora conheciam de forma incipiente – ou mesmo desconheciam – serviços de atenção profissional especializada em saúde bucal, a presença do cirurgião-dentista nestas localidades ainda está longe de suprir toda a demanda existente.
Isto porque, embora o Brasil tenha um dos maiores efetivos de cirurgiões-dentistas do mundo, a proporção de habitantes por profissional está entre as mais baixas. No país, a distribuição desses profissionais ainda é completamente desigual e as disparidades entre as regiões brasileiras chegam a ser assustadoras.
A Organização Mundial de Saúde recomenda que haja um cirurgião-dentista para cada 1.500 habitantes. Contudo, dados do CFO apontam que há atualmente no Brasil cerca de 230 mil cirurgiões-dentistas, um terço dos quais concentrados somente no estado de São Paulo.
Enquanto São Paulo, Minas gerais e rio de Janeiro reúnem mais da metade dos profissionais brasileiros de Odontologia, no Maranhão, por exemplo, há apenas cerca de 1.200 profissionais para assistir uma população que beira.os seis milhões de habitantes, numa proporção de 1 cirurgião--dentista para 4.480 habitantes.
As estatísticas revelam, portanto, que, apesar do considerável avanço observado nos últimos dez anos, o poder público ainda encontra dificuldades em incentivar a fixação desses profissionais no interior do país. A imensa maioria dos cerca de 11.200 profissionais de Odontologia graduados a cada ano no Brasil ainda fica retida nos grandes centros urbanos, especialmente nas regiões Sul e Sudeste.
Nesse sentido, Albuquerque ressalta “a necessidade de uma política séria de interiorização do profissional de saúde no Brasil, devendo haver um esforço conjunto entre União, estados e municípios”.
Para ele, “a interiorização do cirurgião-dentista faz-se necessária e urgente e esse processo deve ser acelerado. Temos um grande exército de profissionais de Odontologia prontos para atender ao chamado e levar a essas populações não apenas tratamento curativo, como exodontias e restaurações, mas principalmente educação, promoção e prevenção em saúde bucal”.
Ainda de acordo com o cirurgião-dentista roraimense, esse quadro pode ser revertido a partir de políticas públicas mais direcionadas não apenas para a migração desses profissionais para regiões mais afastadas dos grandes centros como principalmente para a manutenção deles nestas localidades.
“Vejo como um fator complicador a falta de um plano de cargos, carreira e vencimentos que estimule não apenas a ida destes profissionais para municípios distantes ou de difícil acesso, mas também a sua permanência lá, pois observamos um grande rodízio de profissionais nessas regiões”, afirma.
A atuação do CD no interior do país
Gradualmente, o cirurgião-dentista tem conseguido romper barreiras geográficas e vai adentrando o interior do país, levando a populações extremamente carentes informações importantes sobre como manter a higiene bucal, cuidando, portanto, não apenas de sua saúde bucal como também da saúde geral do corpo.
“Com a presença do profissional de Odontologia, a população terá acesso a um serviço que devolverá sorrisos escondidos depois de perdas de elementos dentários, cáries extensas e dores contínuas. O cirurgião-dentista será um profissional que levará educação em saúde, algo importante para o crescimento e o desenvolvimento de crianças e daqueles que encontram dificuldade no acesso a essas informações”, destaca Albuquerque.
Entretanto, o profissional precisa pautar sua atuação junto a essas populações muito além da prestação de um simples tratamento odontológico de caráter curativo. O representante do CFO na comissão do Ministério da Saúde acredita que o foco do trabalho do cirurgião-dentista deva ser de natureza educativa e preventiva.
Conforme afirma, “o profissional poderá atuar como educador em saúde bucal, orientando quanto aos cuidados necessários com a higiene bucal, com alimentação adequada, e que meios poderão ser utilizados para prevenir doenças como cárie e câncer bucal”.
Além disso, diz Albuquerque, o profissional precisa estar aberto a estabelecer intercâmbio de conhecimentos com a população local. “Em equipes de saúde bucal que trabalham em comunidades indígenas, por exemplo, há relatos impressionantes de troca de conhecimento entre indígenas e membros da equipe quanto à forma de higienização bucal e a utilização de plantas da floresta. Com isso, o cirurgião-dentista acaba aprendendo outras formas de enfrentamento do problema das doenças bucais.”
Ficou um tanto difícil ler o blog, com esta nova configuração.
ResponderExcluirEste tema é bem interessante. Gostei.
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Acho que os fatores determinantes do mercado em Odontologia, além da proporção entre população e CDs, e a sua distribuição mais ou menos homogênea, merecem mais estudos e análises.
Grande abraço.
Por Favor, Altere o layout de seu blog, para facilitar a leitura.
Pronto professor, ja mudei! É que ainda estou aprendendo a usar esse blogger! hausaushau... Mas eu cehgo lá! :D
ResponderExcluirAgora, sim. Bem melhor. É isso aí, é fazendo que se faz! (ops!).
ResponderExcluir:D
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